Entrevista com Luciana Zamproni, secretária da Mulher de Cuiabá

Dia 8 de março é celebrado o Dia Internacional da Mulher. A data é uma representação da luta por direitos iguais entre homens e mulheres e foi oficializada pela ONU em 1975. O mesmo ano também foi oficializado, pelas Nações Unidas, como o Ano Internacional da Mulher, para lembrar de suas conquistas políticas e sociais.

E para homenagear a data, convidei a Secretária da Mulher, Luciana Zamproni, para contar um pouco mais sobre o trabalho da secretaria e também sobre a violência doméstica, crime que se intensificou nessa pandemia.

Antes da pandemia, a violência doméstica já era recorrente. Você acha que o isolamento social intensificou esse crime?

Intensificou, sim. Identificamos a subidentificação, que é quando as mulheres deixam de denunciar e permanecem com seus agressores dentro de casa, muitas vezes por medo dos filhos, de onde ir, de passar fome e permanecem com os agressores. Para ter uma ideia, em 2019 nós não tivemos nenhum feminicídio e já em 2020, tivemos 3. Então verificamos que com a pandemia e os agressores mais em casa, as agressões são muito maiores.

O que deve fazer uma mulher vítima de agressão?

O primeiro passo é a denúncia. Essa é a única forma de sair do ciclo de violência. É preciso quebrar esse ciclo e acreditar no judiciário, que tem trabalhado em prol da mulher. Não só a denuncia por parte da agredida, nos enquanto cidadãos não podemos ser negligentes, devemos fazer esse denuncia quando identificarmos uma violência próxima da gente. Ligar pro 190 imediatamente.

Quais são os tipos e como se caracteriza a violência doméstica?

Temos 5 tipos de violência doméstica: A violência física, violência emocional, violência patrimonial, violência verbal e violência sexual.  A física muitas vezes é visível. A emocional é toxica, vai destruindo aos poucos e mulheres levam de 7 a 10 anos para denunciar. Tem também os relacionamentos abusivos que a mulher vive e muitas vezes não percebe que o ciúmes também é uma abusividade. Tivemos muito casos de violência patrimonial no ano passado com os auxílios emergenciais. A questão é que não existe democracia para a violência doméstica, ela atinge todas as classes.

Como a Secretaria pode auxiliar mulheres que estão sofrendo qualquer tipo de violência doméstica?

Temos um canal através do nosso email que é o gabinete.smm@cuiaba.mt.gov.br e temos também o Espaço de Acolhimento dentro do HMC – Hospital Municipal de Cuiabá, que é um espaço com uma equipe multidisciplinar que atende 24 horas, dando todo apoio e suporte as vítimas. O espaço é composto por mulheres que trabalham tanto a parte psicológica, como a parte assistencial e a parte jurídica. Se ela não tiver para onde ir, temos a casa abrigo que foi completamente reformada por essa gestão. O espaço do acolhimento está ai apto a ajudar.

E na sua opinião, o que fomenta a violência contra a mulher?

Nós ainda vivemos um modelo patriarcal e machista na sociedade. Acredito que isso vem de uma cultura ao longo de muitos anos. É preciso pensar enquanto sociedade, em trabalhar esse agressor para não dar continuidade a violência. É um modelo que agrega a outros fatores sociais como bebidas alcoólicas, uso de drogas, entre outros e faz com que exista o aumento do índice de violência.

Quais são os principais desafios nessa luta?

A secretaria foi criada num momento de pandemia onde as mulheres precisam de ajuda não só na questão da violência, mas também na sua qualificação profissional no mercado de trabalho. Acredito que é um desafio diários e tenho a certeza que essa gestão, que vem trabalhando as politicas públicas desde 2017, vai continuar fomentando e implantando para que a mulher tenha coragem. Estamos no dia a dia com uma rede de proteção muito grande em todos os lugares de Cuiabá. Posso afirmar que é uma luta diária, mas também uma vitória diária.

Na pandemia muitas mulheres que estavam desempregadas deram a volta por cima e se reinventaram para o sustento. Sobre as ações da secretaria, existe algum programa que fomente essa empreendedora informal?

Sim, desde 2018, através de um projeto idealizado pela Primeira dama Marcia Pinheiro, que é o Qualifica 300. Esse projeto já profissionalizou mais de 2000 mulheres que são gratas a essa oportunidade. Costureiras fizeram mascaras, cozinheiras fizeram comidas e entregaram através de delivery, entre outros. Esse ano o projeto também vai expandir para a juventude e esperamos mais de 10.000 pessoas qualificadas, sendo 50% mulheres.

Desde a criação da secretaria, quais tem sido os principais desafios enfrentados?

Acredito que o maior desafio foi a violência doméstica. Hoje por ser um momento pandêmico, penso na saúde da mulher e na questão da violência doméstica, que é o estopim de tudo que vem acontecendo. É uma luta diária e nosso trabalho na secretaria é fazer com que as politicas publicas cheguem as mulheres mais vulneráveis, que elas tenham coragem de quebrar o ciclo da violência e saber que elas têm um apoio.

Como secretaria da mulher, qual projeto realizado tem mais orgulho?

Nesse início de Secretaria, foi o Espaço do Acolhimento. Tenho orgulho de ver mulheres procurando ajuda, quebrando ciclos de violência e acreditando que elas podem mais. Cada dia que uma mulher é atendida no espaço, que ela dá o depoimento que conseguiu sair da situação, eu acho muito gratificante.

Quais são os projetos futuros da secretaria?

Para o mês de março, temos o Projeto Mulheres que Mudam Cuiabá, que homenageia mulheres que estiveram a frente na pandemia o tempo todo que são as garis e as motoristas do transporte coletivo. Temos também a Roda de Auto Amor, que será uma roda terapêutica, dentro no HMC. E temos outros para lançar durante o ano e atender a demanda que chega até nós.


Núcleo Espaço de Acolhimento da Mulher

Endereço: HMC- Hospital Municipal de Cuiabá

Rua Orivaldo M de Sousa S/N, Despraiado

Telefone: 3318-4818

e-mail: espacoacolhimento.smm@cuiaba.mt.gov.br

Atendimento: 24 horas

2 comentários em “Entrevista com Luciana Zamproni, secretária da Mulher de Cuiabá”

  1. Que linda reportagem . Saber que existe estes espaços nos deixa muito feliz . Tenho ouvido falar muito desta secretária, da sua coragem, da sua origem, e do todo seu empenho . Parabéns

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